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Ali pela metade do ano passado, pandemia nos colocando em um mar de incertezas sobre o futuro, senti que precisava fazer algo com algumas canções que estavam ali paradinhas, esperando sua vez. Escolhi três que falavam muito do que eu queria dizer como pessoa e artista, e escrevi um pequeno texto de abertura. Sentei na frente do computador e gravei tudo que eu tinha à minha disposição: voz, violões, baixo, teclado MIDI, ovinhos, pote de margarina, tampo de mesa…

Entendi que o EP acabaria tendo o som da minha casa – e gostei da ideia pontuar esse momento tão atípico da minha e das nossas vidas gravando um trabalho assim. A ideia dessa vez era assumir que uma gravação é um recorte no tempo e não interferir nisso para além da junção de diferentes gravações. Nada foi editado em termos de colocar no “tempo certo” ou na “afinação certa”. Outra característica foram os vazamentos de som (um carro acelerando, uma feira lotada, um grito na rua) sendo incorporados como parte do som.

Adoro a linguagem da @__________fanti e a convidei para contribuir com a capa de “Bom Dia, Boa Tarde, Boa Noite” por acreditar que suas intervenções comunicam um bocado do que passamos neste período. A foto da capa foi feita pelo querido amigo @felipekautz dentro do dito apartamento-estúdio onde as canções foram produzidas e gravadas. Os olhos fechados são reflexo de uma experiência comum para nós nos últimos (quase) dois anos: a necessidade de olhar para dentro, compreender as aflições, acolher as dores e reunir força para seguir de forma diferente.

Esse EP foi ao mesmo tempo um desafio e um presente. Sou muito grato a todo mundo que contribuiu para que ele existisse.
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